Funai tem 15 dias reiniciar demarcação de terra indígena em Itaituba
A Justiça Federal deu 15 dias de prazo para a Funai (Fundação
Nacional do Índio) apreciar e publicar o Relatório Circunstanciado de
Identificação e Delimitação da Terra Indígena Sawré Muybu, dos índios
Munduruku, em Itaituba, oeste do Pará.
O relatório está pronto desde 2013 e é etapa fundamental do processo
de demarcação da terra indígena, que será diretamente impactada caso o
governo construa a usina hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, com
alagamento de aldeias, florestas e cemitérios.
O procedimento de demarcação se arrasta há 13 anos e foi paralisado
inexplicavelmente ano passado quando quase todos os trâmites
administrativos já estavam concluídos.
O juiz federal Rafael Leite Paulo, da Vara Federal de Itaituba, questionou a Funai antes de decidir sobre a demarcação.
A Funai respondeu que não tem prazo definido para dar prosseguimento à
demarcação e que não o fez porque estava priorizando demarcações nas
regiões nordeste, sul e sudeste do Brasil.
“Observa-se que o processo está parado sem um fundamento válido, mas
tão somente invocando uma genérica e vazia alegação de priorização das
regiões centro-sul, sudeste e nordeste e assim, os direitos dos
indígenas seriam perpetuamente postergados, uma vez que as prioridades
estabelecidas não abarcaram o processo demarcatório da terra indígena
Sawré Muybu”, diz a decisão judicial.
O processo de demarcação da área citada, com pouco mais de 178 mil
hectares, teve início formal em 31 de janeiro de 2001. Na ocasião, a
presidência da Funai constituiu o primeiro grupo técnico para realizar
estudos e levantamentos preliminares para identificação das aldeias
Munduruku situadas ao longo da calha do Tapajós.
Já em 2007, a presidência da Funai reinstitui o Grupo Técnico para
realizar os estudos de identificação e delimitação. O Relatório
Circunstanciado de Identificação e Delimitação (RCID) está pronto desde
13 de setembro de 2013.
Mas a Funai descumpriu o rito legal previsto para o procedimento de
demarcação e deixou de publicar o resumo do relatório no Diário Oficial
da União e paralisou a demarcação quando a Terra Indígena Sawré Muybu já
estava com toda a documentação pronta para homologação e registro.
A demora na demarcação provoca inúmeros danos aos Munduruku do médio
Tapajós, ameaçados constantemente por invasões de madeireiros e
garimpeiros.
Estudos feitos pela própria Funai (na Coordenação Regional do
Tapajós) demonstram, através de imagens de satélite, a existência de
vários ramais clandestinos abertos por madeireiros para desmatamento
ilegal no interior da terra indígena.
Outro grave prejuízo é que a área Sawré Muybu deve ser alagada pelas
usinas hidrelétricas de São Luiz do Tapajós e Jatobá, que o governo quer
construir no rio.
Com a demora no reconhecimento no território que ocupam secularmente,
os moradores da Sawré Muybu, maiores prejudicados pelos projetos
governamentais, não terão reconhecido seu direito à consulta e
compensação.
Fonte: MPF/PA
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