Geólogo aponta erros do decreto da garimpagem
Do blog do Jeso Carneiro.
Para o geólogo Jubal Cabral Filho, residente em Itaituba, epicentro
dos efeitos do decreto assinado pelo governador Simão Jatene na
segunda-feira (15) e que proíbe a atividade garimpeira “nos leitos e
margens dos tributários diretos e indiretos do rio Tapajós”, a decisão é
“dúbia”.
- Em lugar nenhum do Brasil ou do mundo se faz um ordenamento [desse tipo] através de decreto – crítica.
E avisa: reflexos econômicos dessa medida estarão logo logo visíveis na região.
Jubal entende que a instalação de uma agência da Sema (Secretaria Estadual de Meio Ambiente)
em Itaituba, com autonomia para fiscalizações e análises técnicas,
teria mais efeitos benéficos para o setor mineral do que a medida adota
pelo governo Simão Jatene.
Ao blog, o geólogo apontou os erros dessa iniciativa.
Qual a sua avaliação do decreto?
Jubal Cabral Filho – Medida dúbia. Nunca em lugar
nenhum do Brasil ou do mundo se faz um ordenamento através de decreto.
Na Malásia ou na Guiana, quem explora tem a obrigação empresarial de
reparar o meio ambiente ou pára de trabalhar.
Onde está o erro deste decreto?
Na minha opinião, no próprio governo, que vem concedendo,
sucessivamente, as licenças ambientais para que a atividade se desenrole
nos rios brasileiros, não só na extração de ouro como também na
exploração de materiais de construção “in natura” (cascalho, seixo,
areia etc.). Agora que vai parar, por decreto, a validade das licenças
ambientais concedids terão suspensão de prazo de validade também? E nas
áreas dos afluentes mais longínquos do Tapajós como vai ser? Se os
sedimentos em suspensão são carreados para o rio mor (Tapajós) eles vão
proibir a exploração ou deixar que a coisa ande a bel prazer?
É oportuna essa medida?
Não. Deveria, na minha humilde opinião, ser realizado a orientação
imediata dos dragueiros, para que a sustentabilidade da atividade não
ficasse prejudicada. Com a presença de fiscais e observadores
imparciais, tenho a impressão que teríamos resultados mais reais.
Quais os reflexos econômicos para a economia, por exemplo de Itaituba?
Não haverá reflexos só na economia de Itaituba, mas de todo o Brasil.
Vejamos: em Itaituba, a atividade garimpeira é responsável por cerca de
70% movimentação financeira na região. Compra-se e vende-se gêneros
alimentícios e domiciliares, da renda que a população
residente/flutuante nos garimpos promove. Paralisada por 60 dias, quando
for feita a retomada destas atividades se passarão mais 120 dias até a
economia volte ao normal. Assim, quem vende gêneros alimentícios e
material de reposição terá que diminuir consideravelmente a movimentação
de seus estoques. Perde o Pará, que vai ter uma diminuição do
recolhimento de ICMS, IR e outros tributos; perde a região, que terá os
garimpeiros nas portas das prefeituras pedindo ajuda. Quem trabalha nas
áreas de terra firme também ficará, sempre, com a pulga atrás da orelha
imaginando que o governo vai promover uma paralisação a qualquer tempo.
O senhor acha possível o Estado fiscalizar e punir quem ignorar o decreto?
O Estado vai ter que mostrar a cara agora. Esperaremos a Instrução
Normativa da Sema [Secretaria Estadual de Meio Ambiente] sobre o assunto
para saber como vai ser a fiscalização e quais vão ser as punições.
Assim que soubermos do teor da IN, poderemos saber qual será a real ação
estadual.
Que medida complementar a esse decreto o Estado do Pará deveria também adotar nessa área da garimpagem no rio Tapajós?
Há muito tempo venho solicitando que a Sema instale uma agência ou
regional em Itaituba. Tem uma em Santarém, mas a quantidade de
requerimentos que são oriundos da mineração e da garimpagem, através das
PLG’s (Permissões de Lavra Garimpeira), já nos faz voltar os olhares
para a região do Tapajós. Mas só deve ser instalada uma agencia ou
regional se houver a locação de técnicos para realizar as análises,
vistorias e fiscalizações. Se for para receber documentos não adianta
nada. Isto sim deveria ser a ação do estado neste instante: promover
atividades obrigatórias (treinamento, discussões, workshop etc.) em
Itaituba e fazer valer sua função primordial: primeiro orientar e depois
punir.
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