Comissão de Direitos Humanos vai acompanhar investigações sobre a Operação Eldorado.
Da Agência Brasil
As investigações sobre a morte do índio Adenilson Kirixi Munduruku, em novembro de 2012, durante a Operação Eldorado, serão acompanhadas pela Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Câmara dos Deputados. A CDH criou uma comissão para acompanhar o caso, atualmente investigado pelo Ministério Público Federal (MPF).
As investigações sobre a morte do índio Adenilson Kirixi Munduruku, em novembro de 2012, durante a Operação Eldorado, serão acompanhadas pela Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Câmara dos Deputados. A CDH criou uma comissão para acompanhar o caso, atualmente investigado pelo Ministério Público Federal (MPF).
A reunião desta quarta-feira (17) da CDH, começou sob protestos contra o
deputado federal Marcos Feliciano (PR-SP), presidente da comissão. Mais
uma vez, o acesso do público ao plenário foi restrito.
A Operação Eldorado foi deflagrada pela Polícia Federal (PF) para
combater a extração ilegal de ouro em terras indígenas nos estados de
Mato Grosso, do Pará, de Rondônia, do Amazonas, de São Paulo, do Rio de
Janeiro e do Rio Grande do Sul. Na época, a PF defendeu-se alegando que o
confronto entre os policiais e os munduruku ocorreu porque alguns
índios da aldeia Teles Pires, em Jacareacanga (PA), na divisa do Pará
com Mato Grosso, tentaram impedir a destruição das dragas usadas em um
garimpo ilegal. Os índios, contudo, dizem que Adenilson foi executado,
pedem o esclarecimento do crime e a punição dos responsáveis.
Durante a audiência, foi apresentado um vídeo que mostra a chegada da
da PF na aldeia. Nas imagens, os policiais aparecem atirando. O vídeo
também mostra imagens do índio morto.
O cacique Natã Munduruku criticou a ação dos policiais. Ele disse que,
ao contrário do que foi divulgado, a Polícia não usou balas de borracha.
“O ouro é só uma justificava para entrar e destruir o garimpo. O
garimpo é antigo. Se é pra reprimir, tinha que ser onde está o garimpo e
não na aldeia”, disse.
O cacique também criticou a Fundação Nacional do Índio (Funai) e cobrou
da CDH que peça ao Ministério da Justiça os nomes das pessoas que
autorizaram a operação. “A peça fundamental [da investigação] é saber
quem autorizou”.
O deputado Pastor Eurico (PSB-PE), autor do requerimento que convocou a
audiência, disse que após assistir ao vídeo “foi apresentado um novo
tipo de bala de borracha; borracha que fere, borracha que mata”.
Junto com outros deputados, Eurico lamentou a ausência da presidenta da
Funai, Marta Maria do Amaral Azevedo, e do diretor-geral do
Departamento da Polícia Federal, Leandro Daiello Coimbra, ambos
convidados para participar da audiência.
"Em uma semana emblemática, em que se comemora o Dia do Índio, a Funai,
que deveria ser a maior interessada nas questões indígenas, deixa de
estar presente e sequer se faz representar [nesta reunião]", disse o
deputado Roberto Lucena (PV-SP).
O presidente da comissão, Marco Feliciano, disse que desconhece a morte
do índio. “Eu desconheço que este fato tenha sido noticiado pela
imprensa”, disse ao iniciar sua intervenção no debate.
Para o procurador da República em Santarém, Felipe Almeida Bogado, a
Operação Eldorado foi uma “[ação] atípica da Polícia Federal” e disse
acreditar que não era intenção da polícia matar o índio. Ele ressaltou
também que a ação foi extremamente violenta. “O inquérito tem fotos que
mostram buracos de bala nas paredes da escola e nas casas da aldeia. Não
foram usadas somente balas de borracha”.
Bogado pediu a exumação do corpo de Adenilson para que seja feita nova
necropsia. Para ele, o exame anterior foi superficial, pois não traz
informações sobre o calibre da arma que matou o índio e a distância de
que foram disparados os tiros. “Com a exumação a gente vai ter
informações relevantes sobre o que de fato ocorreu na situação”. Para o
procurador, as informações ajudarão a punir os envolvidos e a buscar
responsabilização civil da União.
A Operação Tapajós envolve militares e policiais que atuam na região,
por determinação do governo federal. O objetivo é garantir a realização
dos estudos coordenados pela Eletrobras para a construção da Usina
Hidrelétrica São Luís do Tapajós, no Rio Tapajós, no oeste do Pará, na
região próxima à aldeia dos índios munduruku.
Bogado louvou a decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região
(TRF-1), em Brasília, de determinar a suspensão temporária do processo
de licenciamento ambiental das obras da usina hidrelétrica e todas as ações relacionadas ao empreendimento.
“Pela primeira vez a Convenção 169 da OIT [Organização Internacional do
Trabalho] vem sendo respeitada com a decisão do tribunal”, comentou.
A convenção, da qual o Brasil é signatário, determina que, antes de
serem feitos estudos de impacto ambiental, é preciso consultar os povos
indígenas e as populações tradicionais que possam ser atingidos pelo
empreendimento.
A Advocacia-Geral da União (AGU) divulgou nota em que afirma que, ainda nesta semana, vai recorrer da decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1).
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