Grande Assembleia Munduruku mobiliza indígenas no Pará
Por Luana Luizy,
“Não somos contra o desenvolvimento do país, mas
não aceitamos ter nossas vidas destruídas em nome de um tipo de progresso que
só irá beneficiar os grandes empresários que ficarão cada vez mais ricos”. Foi
em clima de indignação e revolta contra grandes projetos hidrelétricos do
Governo Federal previstos para a Bacia do Tapajós, que aproximadamente 500
indígenas Munduruku realizaram a grande Assembleia entre os dias 29 de janeiro
a 1º de fevereiro, no município de Jacareacanga, Pará.
“O povo Munduruku está muito articulado e
consciente de seus direitos. Eles estão determinados a impedirem a implantação
de projetos hidrelétricos previstos para a Bacia Tapajós’, argumenta, Cleber
Buzatto, secretário-executivo do Cimi.
O episódio da Operação Eldorado, na Aldeia Tele
Pires, estado do Mato Grosso que resultou na morte de Adenílson Kirixi
Munduruku, pela Polícia Federal, no dia 7 novembro de 2012 também foi pauta no
encontro, que contou com a presença de lideranças das etnias Kayabi e Kayapó.
“Todos os que cometeram o crime contra Adenílson e nossa aldeia precisam ser
punidos. Em abril levaremos o caso a ONU sobre a omissão e violação grave dos
direitos humanos dentro de nossa aldeia. Pedimos indenização à comunidade sobre
os danos provocados, inclusive meu irmão corre o risco de amputar o braço em
função do ataque”, denuncia a liderança Valdemir Munduruku.
Presença
inusitada
A presença inusitada de um funcionário da empresa
de consultoria ambiental, Ecology, ligada a Eletrobrás causou estranhamento nos
indígenas. Questionado sobre sua procedência, o funcionário ora alegou ser do
Ministério Público Federal, outrora da Funai, mas os indígenas conseguiram
desmascará-lo e apreenderam pacificamente anotações e filmagens que portava
consigo. “Pedi para ele se explicar na plenária, pois as pessoas não sabiam
quem ele era. Avaliamos que essa pessoa estava fazendo espionagem para levar às
empresas estratégias sobre como implantar projetos e viabilizar os estudos na
região, ou ainda, visualizar quem são as principais lideranças”, aponta Marcos
Apuriña, coordenador da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia
brasileira (Coiab).
A política desenvolvimentista do Governo Federal
alimentada pelo Programa de Aceleração e Crescimento (PAC), também foi
criticada pelos indígenas. “Questionamos a política da presidente Dilma. Não
vamos permitir qualquer tipo de estudo sobre implantação de hidrelétricas na
região”, reitera Marcos Apuriña.
A Assembleia também contou com a presença da
Secretaria da Presidência da República, Ministério Público Federal, e
coordenadores e técnicos da Funai de Brasília e do Pará. “O governo não trouxe
nenhum projeto de sustentabilidade que respeite, de fato, a biodiversidade e
não agrida a natureza, para a Assembleia”, menciona Valdemir Munduruku.
Ao final do encontro os indígenas assinaram um documento com 33 pontos, entre eles o fim dos
estudos das hidrelétricas na Bacia do Tapajós e Teles Pires; a revogação
imediata da Portaria 303 (medida que determina que as terras indígenas podem
ser ocupadas por unidades e empreendimentos hidrelétricos e minerais de cunho
estratégico, sem consulta aos povos) e a PEC 215 ( medida que tem o propósito
de transferir para do executivo para o legislativo a competência de aprovar a
demarcação das terras indígenas)
Comente aqui