MPF abre investigação sobre conflito entre Polícia Federal e indígenas
Procuradores da
República cobram da PF dados sobre exames periciais e relativos ao
planejamento e execução da operação Eldorado na área Munduruku
O Ministério Público Federal (MPF) abriu oficialmente nesta
segunda-feira, 19 de novembro, investigação sobre o conflito entre
policiais federais e índios Munduruku da aldeia Teles Pires, na divisa
dos estados do Pará e Mato Grosso. No último dia 7, dois policiais e
seis indígenas ficaram feridos e o índio Adenilson Kirixi Munduruku foi
assassinado com três tiros, segundo representação assinada por 116
organizações e entidades da sociedade civil.
Os procuradores da República Felipe Bogado, que atua em Santarém
(PA), e Márcia Brandão Zollinger, do MPF em Cuiabá (MT), determinaram o
envio de ofício à Polícia Federal (PF) em Mato Grosso com uma série de
questionamentos. O MPF quer saber se foi feita necrópsia, para apurar a
causa da morte, e se houve a identificação, apreensão e o exame pericial
na arma que teria efetuado o disparo contra o indígena.
No ofício, os procuradores da República também solicitam que a PF
forneça cópia dos áudios e vídeos que tenham sido gravados nos dias da
ação policial e que seja apresentada a relação detalhada de todos os
participantes da operação, sejam eles da PF, da Força Nacional de
Segurança, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama), da Fundação Nacional do Índio (Funai) ou de
quaisquer outros órgãos.
O MPF também quer informações sobre os nomes e contatos das
lideranças indígenas com quem no dia 6 teria sido combinada a realização
da ação policial. A operação Eldorado foi deflagrada com o objetivo de
desarticular organização criminosa dedicada à extração ilegal de ouro em
terras indígenas. Segundo nota à imprensa divulgada pela PF, houve
acordo com os índios para a realização da operação na área dos
Munduruku.
Os procuradores da República também determinaram o envio de ofício ao
Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) de Cuiabá para solicitar
cópias dos boletins médicos dos dois indígenas hospitalizados na capital
mato-grossense.
O MPF vai realizar oitiva dos agentes públicos que participaram da
organização logística da operação e dos que executaram a atividade.
Relatos – Segundo relatos coletados pelas
organizações autoras da denúncia ao MPF, houve violações a direitos
indígenas, abuso de autoridade e outros crimes. A PF teria chegado à
aldeia fazendo voos rasantes de helicóptero e disparando projéteis de
borracha, o teria assustado os indígenas - entre eles idosos, crianças e
mulheres – e provocado a reação dos guerreiros com arcos e flechas.
“Na sequência, a polícia disparou contra os indígenas, resultando em
diversos feridos e na execução de uma liderança indígena. Adenilson
Munduruku foi encontrado pelo seu povo com três tiros, um na cabeça e um
em cada uma das pernas. Indígenas afirmam que quando o corpo caiu na
água a polícia federal atirou bombas contra ele na tentativa de
destruí-lo”, diz a representação apresentada ao MPF no último dia 14.
Entre os signatários do documento estão sindicatos, associações
indígenas, associações de classe, entidades estudantis, partidos
políticos e movimentos sociais da Amazônia e de todo o país (veja a
íntegra da representação aqui).
Ministério
Público Federal no Pará
Assessoria
de Comunicação
(91)
3299-0148 / 3299-0177 / 8403-9943 / 8212-9526
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