Ameaças de morte contra os que se opõem ao Complexo Hidrelétrico do Tapajós
A
Coordenação Nacional da CPT vem a público para denunciar os graves
conflitos que já começam a se manifestar em torno ao Complexo
Hidrelétrico do Tapajós, no Pará, provocados pela Eletrobrás,
Eletronorte e empresas contratadas.
No
dia 22 de outubro, a casa do presidente da Comunidade do Pimental, José
Odair Pereira, que estava reunido com outros membros da comunidade, foi
invadida por quatro pessoas que os agrediram e os ameaçaram de morte.
As ameaças se estenderam também ao Pe. João Carlos Portes, da CPT de
Itaituba, que apóia os ribeirinhos. O motivo das agressões e ameaças é
que as lideranças da comunidade da Vila de Pimental, localizada às
margens do Rio Tapajós, no município de Trairão (PA), com
aproximadamente 800 ribeirinhos, se opõem ao projeto da Construção da
Hidrelétrica do São Luiz do Tapajós.
Anteriormente
esta e outras comunidades da região, inclusive aldeias indígenas, foram
invadidas por técnicos que, de forma abusiva, desrespeitaram os
direitos das comunidades e provocaram conflitos entre seus moradores.
Poucos
dias antes, em 17 de outubro, realizou-se na cidade de Itaituba, uma
reunião entre representantes da Eletrobrás, Funai e CENEC (empresa
encarregada pela Eletronorte de fazer os estudos do EIA RIMA) e 20
representantes do povo Munduruku do Alto, Médio e Baixo Tapajós. Essa
reunião aconteceu porque anteriormente os índios haviam impedido os
técnicos da CENEC de fazer os trabalhos de pesquisa em suas terras.
Tratava-se de conseguir sua aprovação para os estudos. Mas os índios
mantiveram firme sua oposição às obras. A representante da Funai, Martha
Montenegro, de Brasília, pressionou-os chegando a afirmar que mesmo sem
suaaprovação os estudos iriam continuar e que caso eles reagissem, o
governo poderia colocar a Força Nacional para garantir a continuidade do
trabalho.
Diante
disto, a Coordenação Nacional da CPT presta sua solidariedade às
comunidades ribeirinhas e indígenas que lutam para preservar seus
territórios e seus modos de vida e que por isso sofrem ameaças. Nossa
solidariedade particular às lideranças que são agredidas e ameaçadas, em
especial ao nosso irmão e companheiro Pe. João Carlos Portes.
A
situação de conflito e de agressão aos direitos indígenas e de outras
comunidades tradicionais que se perpetraram em Rondônia em torno às
Hidrelétricas de Jirau e Santo Antonio, e na região de Altamira, no
Pará, em torno à construção da Hidrelétrica Belo Monte, se repetem nas
obras do Complexo Hidrelétrico do Tapajós. Ao desenvolvimento
sacrificam-se apreservação da natureza e do meio ambiente, o mais
elementar respeito aos territórios dos povos indígenas e das comunidades
quilombolas, extrativistas, ribeirinhas e outras muitas, e a própria
vida humana. As pessoas que vivem na região, até muito pouco tempo atrás
desconhecidas e invisíveis, agora diante dos interesses econômicos são
consideradas simplesmente como “entraves” ao desenvolvimento e ao
progresso. As usinas do Complexo Hidrelétrico do Tapajós serão, como
tantas outras, empurradas goela abaixo do povo da região sem se
resguardar sua história, sua identidade e seus valores ancestrais.
A
Coordenação Nacional da CPT vê com muita preocupação a subordinação da
Funai, que deveria defender os povos indígenas e seus territórios, aos
interesses das grandes obras, pressionando pela concordância deles. Vê
também com igual preocupação a fala da presidenta Dilma, que na
inauguração da Hidrelétrica de Estreito, na divisa do Maranhão com
Tocantins, disse “Eu me orgulho muito do setor elétrico no Brasil, eu me
orgulho desses empreendedores”. Empreendedores que, na busca de lucros
cada vez maiores, tratoram comunidades e vidas humanas.
A
CPT responsabiliza o Estado Brasileiro pelos conflitos, ameaças ou
mortes que ocorrerem nas comunidades afetadas pelo Complexo Hidrelétrico
do Tapajós.
Goiânia, 26 de outubro de 2012.
A Coordenação Nacional da CPT
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